O legado de Carlos Apolinário para a música gospel
Por Aleckson Marcos
Faleceu ontem, aos 66 anos, o evangelista Carlos Apolinário, após uma batalha contra um câncer desde 2017. A notícia repercutiu a partir de vários ângulos, de modo que a grande imprensa destacou a perda de um ex-parlamentar; de igual modo, lideranças políticas lamentaram a perda de um colega que teve atuação desde a década de 80; já a comunidade evangélica lamenta a perda de um grande evangelista do rádio. Nós, do Reviva Gospel, em respeito à sua memória, não podemos deixar de mencionar sua notável contribuição para a popularização da nossa música evangélica.
Nos idos dos anos 80, quando os cantores evangélicos começaram a fazer as primeiras gravações na Polygram, lá estava Carlos Apolinário desbravando as barreiras que restringiam o acesso desses cantores a TV brasileira. Além do preconceito à música evangélica que existia naquela época, somava-se a resistência ao uso da TV por parte da comunidade evangélica, que já tinha cedido aos apelos do rádio, mas ainda a demonizava (quem nunca ouviu dizer que alguém foi “disciplinado” por assistir TV?)
Seu famosíssimo Programa Carlos Apolinário, que era transmitido todas as manhãs de sábado na Band, exibia clipes dos artistas mais conhecidos da época, como Sérgio Lopes, Nicoletti, Marcos Antonio, Sara Araújo, dentre outros. O projeto de Apolinário era muito ousado e inovador; era uma grande novidade para quem viveu sua infância em São Paulo, ouvindo seu artista predileto e, então, vendo-o na TV cantando. Não apenas isso chamava a atenção, mas também como a diversidade musical era bem representada nas telas da Band. A juventude que não apreciava a destacada fineza do Ozeias de Paula no auge dos seus anos 80, tinha a opção de assistir o rock ousado e jovial do extinto grupo Nova Dimensão. O mesmo se diz do público infantil que se deliciava com a singeleza de Cassiane, Celinha, Vaninha e Wélida Silva.
Carlos Apolinário deu voz não somente a nomes consagrados, mas também a cantores que iniciavam a carreira, como as garotinhas acima citadas. Marcos Antonio ainda no início da carreira, foi um dos que mais se apresentou no programa Carlos Apolinário, que o ajudou a emplacar hits, como O Sangue do Cordeiro, A Fuga e Oração de um Pastor, já na década de 90. Uma das apresentações mais emocionantes foi a da Rebeca (lembra dela?) cantando Um Anjo Serei e não conseguindo parar de chorar mesmo sendo gravada. Aquele era seu primeiro disco (Felicidade –1989) e aquela era uma oportunidade única na tela da TV. Os Canarinhos de Cristo, a dupla paranaense revelada por Mateus Iensen, também aproveitou as oportunidades na TV e consolidou a carreira na década de 90. Muitos outros nomes foram revelados pelo evangelista Carlos e há muito desapareceram do cenário gospel, porém foram testemunhas do que era ver seus clipes simples nas manhãs de sábado.
Carlos Apolinário também fez história no rádio quando, em 2001, adquiriu a concessão da rádio Vida FM 96,5, emissora do formato religioso que atuou por vários anos operando no Vale do Paraíba e na Grande São Paulo. A emissora alcançou os maiores índices de audiência já vistos na capital paulista e na região metropolitana para o seu gênero de programação. Vários artistas, personalidades políticas e da TV passaram pelos microfones da rádio que desde 2016 passou a ser transmitida somente pela internet.
Carlos Apolinário se foi, mas deixou um legado e uma história na música gospel que nunca deve ser esquecida. Oportunizou artistas mirins, revelou aqueles que começavam a carreira e nunca esquecia de cantores consagrados dos anos 70. Se hoje a música gospel é palatável, livre de barreiras e muito lucrativa, deve-se em parte a Carlos Apolinário que ajudou a abrir uma estrada por onde transitam hoje até mesmo quem nada tem a ver com o evangelho.