Josias Menezes: o ourives que lapidou a música evangélica.

 

Ourives é um substantivo de duplo gênero e número e que significa aquele que faz, executa ou vende objetos de ouro e prata.

 

No dia 12/12/2010, Josias Menezes é promovido aos céus, após cumprir seu propósito. Sua primeira profissão foi de ourives, entretando, como dirigia um coral de jovens na Igreja Batista, foi convidado pela AMBC (Assembleia da Mocidade Batista Carioca) a apresentar um programa evangélico na rádio Copacabana, chamado A Voz da Mocidade. O Pr. Flávio Lima me conta que Josias se entendeu tanto com o universo da comunicação que se tornou responsável pela grade evangélica da rádio.

Pr. Flavio, (apresentador, hoje, do programa Reencontro na Rede Brasil que herdou por meritocracia do Pr. Nilson Faninni) me enviou um depoimento:

 

“No início da década de 60 existia um programa na Copacabana, do qual herdei a direção, chamado de A Voz da Mocidade que era para divulgar as atividades da Mocidade Batista Carioca. Josias passou para mim, pois ele já estava dirigindo o horário evangélico da Rádio Copacabana, daí surgiu o Peça o Seu Hino e depois o Música e Inspiração e Hora tranquila. Josias, quando Presidente da AMBC(Assembléia da Mocidade Batista Carioca) realizou um Evento intitulado Congraçamento da Mocidade Evangélica, realizado no grande templo da AD Madureira. Na época, o Pr. Macalão ainda era vivo. Conseguimos superlotar aquele templo com milhares de jovens de todas as igrejas evangélicas do Rio de Janeiro. A visão do Josias sempre foi de ajuntar os crentes, pois naquela época a palavra “evangélico” ainda não existia. E com esta liderança toda ainda conseguiu ser eleito Deputado Estadual.

 

Josias Menezes foi mais que um comunicador, um missionário, um compositor, um visionário. A palavra que define melhor as virtudes de Josias era generosidade. A cantora Josely Scarabelli (que foi descoberta por Jasiel Braga e levada a Josias), ganhou o troféu revelação em 1969 no evento evangélico realizado pela rádio Copacabana, no Maracanãzinho, (um marco para a música evangélica). Ela nos contou por telefone como era o processo de eleição dos ganhadores dos troféus do programa Peça Seu Hino Preferido, que acontecia anualmente. “Josias atendia todos os pedidos de hinos recebidos por carta. Logo após elaborar a pauta do programa, definindo as canções que iriam ser executadas, Josias catalogava as cartas e arquivava em caixas devidamente organizadas mês a mês; havia uma planilha com o plantel de todas as categorias premiadas e o vencedor eleito pelas cartas recebia seu troféu. E Josias Menezes colocava a disposição as caixas para quem quisesse auditar os resultados”, afirma Josely Scarabelli.

 

O que mais me intrigava era o fato de que nos anos 60/70 havia uma separação entre “crentes tradicionais” x crentes pentecostais”, porém Josias conseguiu unir a todos. Era respeitado por batistas, circulava entre assembleianos, pregava nas presbiterianas, e por aí em diante.

 

Uma curiosidade: foi o Josias quem popularizou o nome da nossa música como “evangélica”, pois até então era chamada de “sacra”. Segundo o compositor Elvis Tavares, em seu site efratamusic.com, Josias sofreu o preconceito das alas mais conservadas da igreja na época por acharem o nome “música evangélica” inapropriada e condenando as novas canções que Josias divulgava em seu programa; temiam que as canções dos hinários fossem substituídas pelas novas canções que surgiam. Contudo Josias era um visionário.

 

QUANDO COMEÇOU A CARAVANA DO JOSIAS MENEZES?

Josely Scarabelli me contou que as igrejas ligavam para a rádio e para o programa para tentar agendar os cantores que tocavam na rádio em seus eventos. A princípio ele apenas passava o contato, mas naquele tempo a comunicação não era dinâmica, a maioria dos cantores não tinham telefone (um privilégio da classe média alta), então Josias resolveu levar os cantores para o acompanhar em sua agenda particular, posto que era muito convidado para pregar. Assim nasceu a Caravana que teve inúmeros cantores, tanto fixos como alguns que coincidiam sua agenda com a do Josias. Josely ainda cita alguns nomes como fixos: Quarteto Arautos do Senhor, Zumira (mãe da Eyshila), Elon Cavalcante, José Tostes, Enoch e Priscila, Leonel de Souza, Cenir Silva, Maria do Carmo Alves, José Geraldo, Maria das Graças Passos (mãe do jornalista Alexandre Passos), Cícera e Gedalva, Otoni de Paula. E dos cantores que às vezes participaram estavam Ozeias de Paula, Shirley Carvalhaes, Feliciano Amaral, Paulo Moreira, Conjunto Sonoros…

 

A dimensão do que Josias promoveu no meio evangélico como divulgador e líder pode ser medida pelo resultado que temos hoje, pois a música evangélica não é mais um estilo “alternativo”. Hoje, sem levar em questão o julgamento de sua qualidade poética, é um segmento respeitado que passeia entre FM’s populares, está nos programas mais famosos da televisão, têm grande alcance nas plataformas digitais e está presente em todas as redes sociais. Quer seja de cristão ou não, a música evangélica está presente e há quem diga que ao lado do Sertanejo são os segmentos que ainda tem qualidade musical hoje, devido a “miojisação” da música como um todo.

 

Ah, se não tivesse Josias Menezes! Nossa música talvez não teria evoluído tanto. Agradeço muito a Deus por ter colocado este ourives na nossa história. Entre pequenos erros e grandes acertos Josias foi imprescindível para chegar aonde chegamos.

Ainda me lembro de quando completei sete anos de idade meu pai me levou no programa do Josias; ele tocou a vinheta dos parabéns pra mim e me deu uma caneca de louça, olhou nos meus e disse: “todo dia de manhã quando for tomar seu café você vai lembra de mim”. Depois foi com a gente em uma lanchonete e eu tomei o primeiro Milk Shake da minha vida!

 

Agradeço as pessoas que eu pertubei pra conseguir conteúdo pra contar está valiosa história. Meu pai Leonel de Souza, a minha mãe Bernardina Pereira de Souza, a cantora Josely Scarabelli, ao amigo Elvis Tavares (compositor de “Não Há Barreiras”), ao guitarrista Jose Carlos de Oliveira Porto, o Carlão, do Conjunto Sonoros, ao Pr. Flávio Vieira Lima e tantos outros que durante minha vida me falaram de Josias.

 

Me ajude a contar está história a nossa geração, compartilhe em suas redes sociais.

 

Ledinilson de Souza | Fundador

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