Janires Magalhaes Manso faria hoje 67 anos
Capixaba, Janires teve uma infância conturbada pela falta do pai e acaba se envolvendo com drogas, vindo a ser condenado, preso e pagando penitência no Desafio Jovem, onde conheceu Jesus. Ao sair do Desafio, seus antigos “amigos” se aproximaram dele, que infelizmente retorna ao mundo das drogas. Diante disso, sua mãe, com a ajuda de um amigo, o mandaram a São Paulo para participar da igreja do “Tio Cássio” (como era chamado o pastor) e lá se firmou nos caminhos do Senhor.
Sempre gosto de salientar que a igreja do Tio Cássio, Igreja Cristo Salva, tinha também como colateral do Janires nada mais nada menos que o Pr. Hernandes Filho e o grupo de louvor da igreja era o G3 com Luciano Manga e Túlio Régis, além disso, o piloto Alex Dias Ribeiro e componentes da Banda Rara.
Em São Paulo, Janires cria o grupo Rebanhão, produzindo, a seguir, uma fita com a apoio do Jeziel Liasch da Banda Rara, (essa fita foi muito importante, porque se tornou uma forma do próprio Janires receber alguma grana para suas despesas), mas pouco tempo depois viaja para o Rio de Janeiro, pois, segundo Jerusa Liasch, as pessoas de São Paulo nas estavam preparadas para o tipo de som que ele produzia, pois usava atabaques e outros instrumentos de percussão. Logo, a Igreja Presbiteriana de Copacabana vira seu novo lar. Desesperado por ganhar almas, ele recebe o apoio do diácono Seu Marotta, que se encanta com sua forma espontânea de falar de Jesus, porém havia algum receio pelo seu estilo hipongo de ser. Ele chegou a pedir que seu filho, Paulinho Marotta, se afastasse dele e Paulinho saiu por um tempo do Rebanhão.
Ainda sonhando em retornar com a banda criada em São Paulo, ele arrisca alguns nomes para essa formação e conheceu pessoas importantes como Paulo Cesar Graça e Paz e o maestro Waldenir Carvalho (in memorian), que o apresentou ao músico e produtor Silas Lima, o qual logo se apaixonou pela visão evangelística de Janires. Paulinho Marotta tinha cadeira cativa no conjunto, mas Janires sentia falta de uma guitarra que representasse e, por isso, conheceu o grupo Sinal Verde, de Lucas Ribeiro, ficando encantado com a performance de Carlinhos Felix, que tocava baixo na banda, mas demorou aceitar o convite de Janires pra formar “mais um” novo conjunto.
No dia da estreia do conjunto Rebanhão no Rio de Janeiro, Silas Lima passa mal e Janires se lembra de um jovem que tocava teclado nas reuniões nos lares, organizadas por uma igreja que Janires frequentava, mas o primeiro conflito surgia: ele não era crente! Era apenas um simpatizante, entretanto, Janires sente paz em chamar o rapaz (que inclusive era usuário de maconha nas praias do Rio). Com isso, Pedro Braconnot passa a formar o conjunto com Kandel Rocha na bateria. Surgia, então, a banda que não queria aparecer, mas mostrar Jesus e isso fez toda a diferença!
O Rebanhão tinha pressa e não parava. Seus eventos estavam a todo vapor e em todos os lugares. Em um tempo sem internet, o burburinho do “conjunto maneiro” começava a chamar a atenção. Os jovem abraçavam a ideia e os pastores não olhavam com bons olhos todo aquele movimento, afinal, Janires tratava de temas sociais em suas letras e isso era desconfortável.
O programa Música Viva comandado por Paulo Cesar Graça e Paz, na RBN, divulgava com intensidade o conjunto. Fábio Rogers, que também tinha programa na RBN, divulgava pérolas inéditas do Rebanhão por meio de fitas “demo” (demostração) e áudios captados de apresentações “ao vivo” na igreja da pastora Darlene Gloria (Irmã Helena), em Copacabana, e isso garantia sua audiência nas madrugadas.
Em 1984, Janires se muda para Belo Horizonte e junta-se à missão Mocidade para Cristo (MPC). Lá, fica encantado com Marcelo Gualberto e o Clubão Bíblico, ajudando a promover Som do Céu, um festival de música que cresceu tanto que chegou a lotar as praças de BH. Janires, então, começa a apresentar um programa de rádio chamado Ponto de Encontro (uma lembrança que ele carregava da loja de discos evangélicos que Paulo Cesar Graça e Paz tinha nos corredores da galeria da Rádio Boas Novas, que tinha o mesmo nome). O programa resultou no lançamento do disco “Ponto de Encontro“, que reunia uma seleção de diversos artistas que tocavam na rádio e faziam muito sucesso à época.
Chegou a época do lançamento de um LP da Cristina Mel no Rio e Paulo Cesar chamou o Janires pra participar, o qual se apresentou como Janires e Nova Banda. Mais tarde, em viagem para um show com a banda Sinal de Alerta no Rio, na parada da estrada, Janires vê um cartaz anunciando uma cerveja por nome Banda Azul, e disse: “esse vai ser o nome da nossa banda!” Segundo Moisés di Souza, em 1988 a banda vem para o Rio gravar seu primeiro LP no Studio 464, do Ermínio, ficando três dias no Rio e seus integrantes hospedados na Igreja Congregacional de Bento Ribeiro. “Nós dormíamos em esteiras e tomávamos banho de água gelada em um chuveiro que era um cano”, diz Dudu Batera, da Banda azul.
Quando voltaram para BH para participar do Temporada de Verão, o teclado apresentou um defeito e não havia tempo para consertar para o evento. Então, Janires consegue um teclado emprestado no Rio e convida o Dudu Batera pra ir com ele, que confirma a viagem, mas na hora de ir desiste. Janires chama a atenção dele: “você é um homem ou um rato? Vamos!” Dudu não sente paz e se nega a ir. Janires embarca no ônibus e Dudu se despede sem saber que nunca mais veria o amigo vivo.
Janires vai para o Rio, pega o teclado e fica na casa do Sidnei Amaro, da Banda & Voz, que o leva até a rodoviária. No caminho de volta, o ônibus capota e Janires é uma das 4 vítimas fatais.
O Temporada de Verão acontece e todos aguardavam ansiosamente a chegada do Janires, mas ele não aparece. Ninguém entende, mas era o Janires. Ele teria uma boa explicação quando chegasse. Mas não chegou. Quando Rodrigo Araújo, um dos membros da Missão, volta para Belo Horizonte, a fim de buscar livros e outros materiais em uma livraria, recebe a informação de Leonídio Valério sobre a morte de Janires, porém, a notícia só foi informada aos acampantes ao final do evento.
O corpo foi levado para Brasília e a MPC aluga um ônibus para o velório, mas Dudu tem ajuda dos pais e vai de avião chegando primeiro e sendo recebido por Dona Luiza, mãe de Janires, que estava feliz. Ele não se formou em um rei, doutor ou um soldado, entretanto foi um dos maiores nomes da música evangélica dos anos 80, uma referência de servo de Deus, um homem que venceu suas sentenças. Ao pegar as coisas de Janires, ele tinha apenas um violão Ovation (era um raro instrumento importado e doado por Jeziel Liasch e não se vendia instrumentos importados no Brasil) e uma muda de roupas. Janires nunca juntou bens.
Em um documentário da MPC, Eduardo, guitarrista da Banda Azul, conta que uma vez Janires chegou até ele e disse: “fui me apresentar em uma igreja e recebi uma grande oferta. Fica com parte desta grana.” Eduardo, que tinha um trailer de lanches na época, agradeceu, e duas semanas depois o Janires ligou: “Du, você ainda tem aquela grana? Preciso fazer uma viagem.” Du, que não tinha tocado no dinheiro, devolveu. Assim era o Janires.
Outro amigo, João Alexandre, diz em um dos seus depoimentos que “Janires vivia viajando, às vezes ia até Campinas pra saber como eu estava“. Certa vez, João disse a ele: “você viaja muito vai acabar morrendo nestas viagens…”
Nascido em 22 de maio de 1953, Janires foi promovido aos céus em 11 de janeiro de 1988. Completaria, hoje, 67 anos de idade. E que venham os novos Janires, que sua semente brote nesta geração.
Ledinilson de Souza |Fundador doRdo Gospel
Led ,que linda matéria.
Parabéns!!!
Que possa motivar outras pessoas, pronci6na música, terem a mesma visão.
Janires foi um homem incrível!!!
Excelente reportagem!!!!
Parabéns Led!!!!!
Missão dos Apóstolos
Vocês não devem levar nenhum dinheiro nem ouro, nem prata, nem cobre, e nem sacola de viagem. Também não devem levar nem roupas extras, nem sandálias, nem cajado.
Janires, um Apóstolos da música cristã
Materia sensacional
Cresci ouvindo essas histórias sobre o Janires, Rebanhão e Banda Azul. Realmente, precisamos de mais pessoas assim, dispostas a olhar o outro com compaixão e não como pessoas que compram seus CDs e shows!!!
“E que venham os novos Janires, que sua semente brote nesta geração.”
Quando falamos do amigo Janires, lembro dos Heróis da Fé de Hebreus. Homens que honraram a fé e a fé os honraram pela Graça de Deus.
Lindo relato…conhecia fragmentos desta história e amei conhece la na íntegra. Obrigada aos envolvidos…deu uma vontade de ouvir as musicas….
CRECI ouvindo aquele Homem Louco cantando com uma Voz Rouca e era Indiscutível não sentir a Unção de Deus na Voz dele , São essas Histórias que Conto para meus Filhos de Um Evangélico genuíno e Simples Onde as músicas nós Tocavam que venham mais Janires sobre nossa nação
Nossa, maravilhosa matéria. Parabéns!! Que Deus te abençoe pra que muitas matérias como esta sejam escritas.