História: Há 40 Anos “Desapareceu um Povo”!
Por Aleckson Marcos
Desapareceu um Povo é daquelas canções que tem uma longevidade tão extraordinária, que ultrapassam as gerações com sua mensagem que não envelhece. Os arranjos são simples e a gravação, embora evoluída para a realidade da época, também o é, mas o conteúdo permanece vigente, atual e continua sendo a temática da pregação da igreja evangélica.
A história dessa música se inicia nos idos dos anos 70 no templo central da Assembleia de Deus de Santo André, à época pastoreada pelo Pr. Joaquim Marcelino da Silva. Em um dos cultos daquela igreja, pregava o Pr. Arthur Montanha (Santa Catarina) a respeito do Arrebatamento da igreja, falando as seguintes palavras: “se você não subir no arrebatamento da igreja, quando você ter notícia que a igreja subiu, você vai entrar por essa portas em desespero, perguntando onde está o dirigente dessa igreja, os obreiros, a mocidade , o círculo de oração e alguém que não subiu vai dar a triste notícia e vai dizer: Jesus arrebatou a sua igreja e nós ficamos!
Cecília de Souza, então com 27 anos, já tinha gravado o disco Só Entra Lavado (1975), cujo maior sucesso era Se a Cruz Falasse, e fazia parte da mocidade da Assembleia de Deus em Santo André, acompanhando o conjunto de louvor, tocando acordeom. Ela afirma que naquela noite foi registrado um número muito grande reconciliações, conversões e renovação espiritual de tal modo que a própria Cecília voltou para casa e passou a noite toda sem dormir pensando naquela pregação.
Anos antes, ela afirma ter recebido uma profecia, na qual Deus lhe disse que daria um hino que seria cantado não só no Brasil, mas em vários países do mundo, em muitos idiomas. Naquela manhã de 22 de janeiro de 1979, quando o dia amanheceu, Cecília pegou um lápis e caderno, sentou-se no sofá e escreveu Desapareceu um Povo de uma única vez. Falando a Nilson Lins, ela conta: “eu escrevi, e sentia a presença de Deus; eu chorava e cantei o hino todinho pra minha mãe ouvir. Minha mãe chorou, sentiu a presença do Senhor e falei: foi esse o hino que o Senhor me prometeu!”
Foi assim que no ano de 1979 a gravadora Novas de Paz lançou o disco que leva o mesmo nome dessa música.
POLÊMICAS
No meio evangélico, os compositores, com bastante frequência, sofrem desrespeito com suas canções, seja por gravação não autorizada ou até mesmo por apropriação indevida de obras musicais. Cecília é vítima de ambos os crimes. De acordo com Elvis Tavares, “ocorreram várias regravações de Desapareceu um Povo e uma delas foi realizada pelo Coral e Orquestra Renascer, nos anos 80, porém, ao invés do título original, eis que da capa constava Povo barulhento, ratificando, mais uma vez, meus reclames aqui. Mais tarde, em 2005, o mesmo equívoco foi repetido pela Metal Nobre, de Brasília, ocasião em que a banda a incluiu como a 3ª. faixa do CD Ao Teu Lado, e que, além do nome incorreto da música, ainda a rotularam como “corinho antigo”, esquecendo-se de Cecília de Souza como autora da obra”. Mais grave ainda foi o que veio à tona em 2016, quando o compositor Azmaveth Carneiro, autor do clássico Eu Navegarei, reivindicou para si a autoria da música.
REGRAVAÇÕES
Assim como O Rosto de Cristo e Cem Ovelhas, a música Desapareceu um Povo já foi regravada por dezenas de vezes no Brasil, dentre eles Mara Lima, Shirley Carvalhaes, Alex Gonzaga e Flordelis.
LEGADO
Não há dúvida de que a música mais popular com temática escatológica é Desapareceu um Povo e, conforme descrito acima, a música ora em destaque nasceu sob influência de uma pregação, porém, depois que foi lançada, tomando proporções nacionais, acabou influenciando as pregações das décadas de 80 e 90, de modo que a ideia de que os que ficaram no arrebatamento irão procurar os dirigentes, os jovens e o círculo de oração, era central em cultos evangelísticos. A ideia de que alguém que ficou (possivelmente um desviado) falará aos desesperados que foi o arrebatamento da igreja, também era parte inseparável da maioria das pregações daquela época.
Além das pregações, as canções de temática escatológica que foram gravadas depois de 1979 também receberam forte influência do clássico de Cecília de Souza. Alguns exemplos são Arrebatamento (Rose Nascimento), Quem Ficou, Ficou (Shirley Carvalhaes), Arrebatamento do Povo de Deus (Waldecy Aguiar) e Ele Voltará (Leonor).
Esse continua sendo o carro chefe de Cecília de Souza por onde passa e, diferente do que havia sido anunciado há poucos anos, ela não morreu, está com seus 67 anos completos e sempre atendendo a agendas em todo o Brasil.
Fonte: http://www.efratamusic.com.br/conteudo.php?id=60&id_secao=3
Assista à entrevista completa de Cecília de Souza a Nilson Lins: