Há 30 anos, famoso jornalista criticava multinacionais por gravarem música cristã.
O jornalista e crítico musical Aramis Millarch (1942-1993) assinava coluna no jornal O Estado do Paraná e em 5 de abril de 1987 escreveu artigo sobre gravadoras multinacionais que investiam em música cristã nas suas vertentes católica e evangélica. Confira a seguir na íntegra o artigo de Aramis Millarch:
Messianismo Musical com Muito Marketing
Paralelamente ao chamado crescimento do messianismo eletrônico, ou seja, as igrejas evangélicas assumindo emissoras em FM/AM e, mesmo, horários em programas de televisão, também há alguns anos vem se desenvolvendo uma faixa própria de produção musical evangélica. São centenas de grupos vocais, corais e mesmos solistas que se voltando exclusivamente à música espiritualista alcançam vendagens extraordinárias – embora nunca contabilizadas nas paradas de sucesso oficial.
Se a organizada ordem das Irmãs Paulinas, que atua no mercado editorial, possui também uma linha de discos religiosos com músicas católicas, os evangélicos são muito mais agressivos em termos de marketing – e haveria centenas de exemplos para provar a força deste mercado.
O pastor Mateus Janchen (o nome correto é Matheus Iensen), de Curitiba, proprietário da antiga rádio Marumby – eleito deputado federal nas últimas eleições (e que integra a comissão de Comunicação na Constituinte), implantou há alguns anos um moderníssimo estúdio de gravação no bairro da Boa Vista, por onde são produzidos centenas de discos evangélicos, comercializados pela sua própria igreja. E cada uma das múltiplas seitas evangélicas possui seus casts, numa disputa natural dos humildes e crédulos adeptos de cada uma.
O mercado é tão forte que até uma organização poderosa como a Fonobrás foi acionada agora para distribuir e divulgar discos evangélicos, os quais, segundo Roberto Berro, representante territorial da empresa, alcançam ótimas vendagens – embora sua divulgação se restrinja às próprias igrejas e aos programas de evangelização.
Por exemplo, com o selo Polygram/Evangélico, saíram quatro elepês – produções modestas, de custo reduzido, mas com amplas condições de obterem excelente faturamento. O grupo Rebanhão, que ainda recentemente esteve em Curitiba apresentando-se no templo que funciona num circo inflável, próximo ao Alto da Rua XV, saiu com o disco chamado “Semeador”. Formado por Carlinhos Félix (guitarra/vocal), Pedro Braconnot (teclado/vocal), Paulinho Marotta (baixo/vocal), Natam (vocal), mais Fernando Augusto (bateria) e com participação especial de Sidney Ferreira, também na bateria, o grupo apresenta canções próprias, em estilo jovem, com letras que parecem, naturalmente, hinos catequisadores falando em paz, confiança, amizade e amor. Temática comum em todos os intérpretes, como na dupla Edison e Telma (“Toca Em Jesus”), exclusivamente com canções de Edson Coelho, com títulos que já definem o conteúdo das letras: “O Nome É Jesus”, “Corro Até Jesus”, “Irmãos Do Interior”, “Vale A Pena Ser Crente”, “Sorria?”, “Estamos Alegres” (este uma adaptação do Salmo 126). Já o baixo David Montenegro, com uma voz forte em seu “Pássaro Perdido”, reuniu composições de Paulo Romas, Jota Costa e Pompílio, enquanto outro afinado cantor evangélico, Álvaro Tito (“Não Há Barreiras”), traz composições próprias (“Vencedor”, “Pelo Sangue De Jesus”, “Só Jesus É A Solução”, “Tudo Será Paz”) entre composições de outros autores que se voltam também às canções evangélicas.”
Por Elvis Tavares
Fonte: Efrata Music