“Espelho nos Olhos”: um álbum da Banda Azul que já nasceu histórico.
Era julho de 1987, estávamos tocando num dos acampamentos da Mocidade para Cristo em Goiânia. Nos meses anteriores, ensaiamos a fio para achar o jeito certo de cantar e tocar cada canção do álbum que viria a se chamar Espelho nos Olhos.
Eu e o Janires tiramos um tempo para datilografar e corrigir cada uma das letras do repertório, que carinhosamente ainda guardo comigo. Foi um tempo impar, muito aprendizado e muita expectativa. Naqueles tempos, tocávamos por chamado e convicção e não por grana. Porém, a falta de grana nos impediu de ter um pouco mais de sossego naqueles dias difíceis. Saímos de Goiânia às 22:00 horas, chegamos em Beagá às 06:00 da manhã, sem irmos em casa ao menos para um banho e refazer nossas malas; na rodoviária mesmo, compramos passagens, e fomos para o Rio de Janeiro gravar nosso primeiro álbum. Todos sem dinheiro e sem saber como pagaríamos o estúdio 464, do nosso amigo Ermínio Pinto, um baita engenheiro de gravação, do qual tenho muita saudade, e também do seu parceiro Barney, outro técnico nque participou das gravações.
Atualmente, após trinta e três anos, eu e o Ermínio reativamos nosso contato e falamos daqueles dias maravilhosos. Ao chegar no Rio, fomos direto para a igreja do Pastor Amaury Jardim ( Igreja Congregacional de Bento Ribeiro, onde era realizada uma vigília uma vez por mês). Ali ficamos hospedados – acredite se quiser – num quarto sem luz, dormindo em esteiras sem travesseiro e sem lençol, tomando banho num banheiro sem chuveiro, água gelada do mês de Julho. Mas enchemos nossos corações de esperança e junto com o Janires fomos para o estúdio começar tal gravação. Todos nós sem dinheiro, mas com muita esperança , que de alguma forma ele chegaria. Pois, acreditem! Havia uma empresa de fotografias em Belo Horizonte por nome Sonora (ainda devem se lembrar desta empresa) que lançou uma máquina fotográfica por nome “Love”. Pois é, num daqueles dias de gravação, o dono desta empresa teve um sonho, e ele recebeu neste tal sonho a letra de um jingle… e pediu que gravássemos, letra que me lembro até hoje. Era assim:
“Eu vou fotografar você.
Com a minha Love
Com a minha Love.
Amanhã, quando o sol aparecer,
Vou revelar o que sinto por você.
Verde, amarelo, azul anil
Nas cores do meu Brasil.”
O moço cantou esta letra no telefone pra mim, e em alguns minutos o arranjo estava pronto…e assim o dinheiro para finalizar a produção chegou. Ficamos extremamente felizes e alegres com o resultado do álbum. Foi assim que gravamos este que seria o último álbum da vida do Janires. Ele estava feliz como nunca.
Uma pena que pouca gente sabe das estórias que fazem a história. Infelizmente a memória da nossa música evangélica/cristã/gospel não conta para a nova geração como foi difícil abrir caminho para que a história acontecesse.
Hoje, 33 anos depois, me lembro com saudade e feliz por ter sido parte da história da música brasileira, num tempo onde usar um brinco, era coisa do demônio. Mas Graças a Deus que os frutos estão aí pra muita gente ver
Aguardem detalhes no livro “Tempos Azuis”, que será lançado ainda este ano sob a minha ótica.
Moises Di Souza | Ex-baixista, vocalista, produtor e compositor da Banda Azul.
@moisesdisouzamds
Quem me conhece sabe que amo histórias, nasci em um ambiente de histórias que minha mãe contava de sua vida , tão rica de detalhes que me fazia viajar, hoje me tornei um “CONTADOR DE HISTÓRIAS”, obrigado Moisés por dividir a sua com a família REVIVA
Bom dia amigo vc tem vídeos e fotos da bdndazul rebanhão .
Um dos melhores álbuns da música cristã, eu tinha ele em LP, as músicas e arranjos são geniais e muito a frente do seu tempo.
Simplesmente maravilhoso!! Amei saber dos detalhes e dos milagres providenciais de Deus! Parabéns!!
Aguardo sua próxima colocação ansiosa!!
Demais!!